terça-feira, 31 de maio de 2011

O Pintor de Retratos - Luiz Antonio de Assis Brasil

Do outro bolso tomou seu retrato feito por Nadar, olhou-se. Ficou minutos em contemplação.
E então, com vagar e método, rasgou o retrato em quadrados, em triângulos; depois em partes muito pequeninas. Abriu a janela e foi jogando fora, pedacinho a pedacinho.
De manhã, os meninos que jogavam bola às margens dos trilhos recolheram algumas fracções avulsas da foto de Sandro Lanari. Levaram-nas a seu velho professor. Ajudado pelas crianças, ele ensaiou uni-las sobre o assento do banco.
Após várias tentativas, disse:
- É o retrato de um homem, mas é impossível formá-lo por inteiro. Faltam muitos pedaços, muitos … – Fez um gesto envolvendo toda a paisagem – devem estar por aí… – e com olhos de sábio, olhos que tanto viram e tanto amaram, percorreu a solidez terrestre dos campos e o devaneio infinito das nuvens.

O Pintor de Retratos, Luiz Antonio de Assis Brasil

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