terça-feira, 31 de maio de 2011

A Bela do Senhor - Albert Cohen

            E agora, ouça a maravilha. Farta de se sentir misturada com os ignóbeis, ela fugiu da sala tagarelante dos sequiosos de relações , e foi, voluntariamente banida, para o pequeno salão deserto, ao lado. Ela é você. Voluntariamente banida como eu, e não sabia que por trás das cortinas eu a espiava. Então, ouça, aproximou-se do espelho do pequeno salão, porque como eu tem a mania dos espelhos, mania dos tristes e solitários, e então, sozinha e sem saber que era vista, aproximou-se do espelho e beijou os próprios lábios no espelho.
...
            Eu mesmo, Solal, e do pior mau gosto, sorriu ele mostrando os dentes todos. E com botas! Mostrou ele, e de alegria chicoteou a bota direita. E há um cavalo à minha espera lá fora! Há mesmo dois cavalos! O segundo era para ti, idiota, e teríamos cavalgado para sempre um ao lado do outro, jovens e com os dentes todos, eu tenho trinta e dois, e impecáveis, podes certificar-te e contá-los, ou eu até te levava na garupa, até te levava em glória em direcção à felicidade que te falta! Mas agora já não ma apetece, e de repente o teu nariz é grande de mais, além disso brilha como um farol, e mais vale assim, e eu vou-me embora! Mas antes disso, ó fêmea, escuta! Fêmea, vou-te tratar como fêmea, e vou-te seduzir da forma mais reles, como tu mereces e queres. No nosso próximo encontro, e não vai demorar muito, seduzo-te em duas horas e pelos meios de que todas gostam, os meios reles, e tu hás-de cair num grande amor imbecil, e assim vingo os velhos e os feios, e todos os ingénuos que não vos sabem seduzir, e tu hás-de partir comigo, extasiada e de olhos perdidos! Entretanto, fica com o teu Deume até me apetecer assobiar-te como a uma cadela!
ALBERT COHEN

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