terça-feira, 31 de maio de 2011

Middlesex - Jeffrey Eugenides

ESCREVER
            As Braceletes Douradas não estudavam. Nunca punham o braço no ar durante as aulas. Ficavam sentadas lá atrás, espojadas sobre as mesas, e iam para casa passeando aos seus cadernos. (Embora talvez as Braceletes Encantadas entendessem mais da vida do que eu. Desde a mais tenra idade souberam reconhecer o papel insignificante que os livros têm neste mundo, pelo que não perdiam tempo com eles. Ao passo que eu, ainda hoje, insisto em acreditar que estas marcas pretas no papel são da maior importância, que, se continuar a escrever, conseguirei talvez guardar o arco-íris da consciência num vaso.)
 
PERIFESCÊNCIA
        O estado de perifescência designa a primeira febre do vínculo de acasalamento. Provoca tonturas, júbilo, cócegas nas paredes do peito e uma vontade de trepar a uma varanda através de um cabelo da pessoa amada. A perifescência constitui o primeiro período de inebriamento químico e felicidade conjugal em que uma pessoa é capaz de sentir o perfume de uma papoila durante horas a fio. (…) Para Desdemona, a perifescência era como uma vaga de calor que lhe afluía desde o abdómen até ao peito, alastrando como um aluvião de um licor de menta finlandês com mais de 50 graus. Com o bombear eficiente de duas glândulas do pescoço, afogueava-lhe o rosto. A seguir, a vaga de calor mudou de ideias e começou a espalhar-se por sítios impróprios para uma rapariga como Desdemona, que assim pôs fim à troca de olhares e virou costas. Caminhou até à janela, deixando a perifescência para trás, e a brisa do vale refrescou-a um pouco.

in Middlesex
Jeffrey Eugenides

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