domingo, 11 de junho de 2023

O gato que salvava livros - Sosuke Natsukawa

 


O GATO QUE SALVAVA LIVROS
Como tudo começou 
O primeiro labirinto: o encarcerador de livros
O segundo labirinto: o mutilador de livros
O terceiro labirinto: o vendedor de livros
O labirinto final 
Como tudo terminou

Por mais poderosos que sejam, os livros são regularmente trancados, cortados, vendidos ao desbarato.
Não sejas um daqueles curiosos que se queixa, de que nada muda nunca.
Os pensamentos por si só não podem mudar o mundo.
Trata-se de sentirmos orgulho de quem somos. Falemos dos nossos ideais literários.
Não fiquemos sentados a olhar para o mundo sem fazermos nada. Falemos do prazer e do poder dos livros, mas dos bons livros, não dos que nada acrescentam.

- Mas este livro é realmente terrível, não achas?
Enquanto falava, Sayo mostrou um livro grosso de capa dura que retirou da pasta que trazia a tiracolo.
- Não o compreendo de todo.
Rintaro fez um esgar. Era a obra “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez. Ele tinha começado por recomendar Jane Austen, seguida por Stendhal, Gide, Flaubert - todas histórias de amor, pensando que seriam leituras agradáveis para ela, mas ainda na semana passada Sayo anunciara que estava pronta para experimentar outros géneros. Rintaro sugerira García Márquez.
- Diz-me lá a verdade, tu leste mesmo este livro de fio a pavio? - Perguntou-lhe ela.
- Claro que sim. Mas já foi há algum tempo.
- Sim, és estranho. Não consigo entender uma palavra. É demasiado difícil.
- Isso é bom.
Rintaro riu-se enquanto atacava o pó da estante mais próxima. Sayo olhou para ele com uma expressão confusa no rosto.
- Porque é que é bom?
- Se o achas difícil, é porque contém algo que é novo para ti. Cada livro difícil oferece-nos um desafio novinho em folha.
- De que é que estás a falar? 
Sayo não parecia muito convencida.
- Se achares que um livro é de fácil leitura, isso significa que não tem nada para te ensinar - prosseguiu ele. - É por isso que é fácil. Se o achares de leitura difícil, então isso é a prova de que tens algo para aprender.
[…]
- Cada livro difícil oferece-nos um novo desafio, hã? - constatou Sayo, olhando para o seu exemplar de “Cem anos de solidão”. - Mas se não me conseguir prender, vou responsabilizar-te.
- Foi Gabriel García Márquez que o escreveu, não eu.
- Mas foste tu quem mo recomendou, não Gabriel García Márquez.




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