domingo, 11 de junho de 2023

A Ilha - Sándor Márai


Rodeado pela azáfama das muitas famílias de alemães e outras em férias no Hotel Argentina, em Dubrovnik, Viktor Henrik Askenasi, respeitado professor de grego e de línguas da Ásia Menor no Instituto de Estudos Orientais de Paris, suporta com dificuldade o calor sufocante do verão na costa da Dalmácia. 

Apanha um escaldão e sente muitas dores.

Ao sair do hotel e apanhar o barco vai com a sensação de ter perdido algo. Viaja sozinho.

ANALEPSE

Perto dos 50 anos, o professor iniciou uma viagem solitária pelo Mediterrâneo, levado por uma preocupação que sempre o agitou, e que o levou, alguns meses antes, a fazer uma mudança radical na sua vida. 

Aos 47 anos achara que amava uma bailarina que conhecera há um ano. Os amigos e a família tentaram demovê-lo, mas sentia-se rejuvenescido e por vezes feliz. Viveu com a bailarina, ensinava, trabalhava.. mas foi expulso da universidade por viver em subversão das normas sociais. Eliz era a bailarina. Conheceram-se na rua. Ele ajudou-a e acompanhou-a a uma pensão. Regressou a casa de manhã e Anna, a esposa, esperava-o silenciosamente. Anna deitou-se e ele com ela: e consumou o ato, mas não havia mistério ali, conheciam-se demasiado bem. E continuou com a amante bailarina. Mas a nova felicidade era complexa: Anna ficava cada vez mais desconhecida e Eliz cada vez mais familiar e menos misteriosa. E sabia que não poderia nunca voltar para Anna.

Apesar de ter encontrado um paraíso de liberdade e de estar disposto a aceitar as consequências das suas ações como um passo inevitável no caminho da realização, Viktor descobre que esta liberdade tem uma outra face imprevista que o desconcerta.

Surpreendeu-o o carácter complexo da felicidade. Mas já tinha abandonado o lar, agora havia que passar pela fase da felicidade e, depois, assim pensou, iria chegar a algum lugar.

Pediu uns tempos de licença sabática. Com Eliz sentia que também a satisfação não era completa, mas era mais domais com Anna. Com Eliz viveu em grande anarquia social e económica, de conversas e conhecimentos. Mas continuava sem respostas para as suas perguntas. Apenas o corpo de Elis lhe dava respostas. E um dia abandonou-a também. Ela, ao contrário de Anna, fez uma cena de humilhação e ameaçou-o de que ele nunca seria feliz com outra.

Viveu sozinho durante uns tempos. Sem pensar em Eliz, nem em Anna.

Askenasi deixa de ouvir grego e de relembrar Anna. Mas lembra-se de Eriz. Consulta o médico e este diz-lhe para descansar. Anna visita-o para o perdoar mas ele repudia-a. Viaja então!

P. 108 - FIM DA ANALEPSE

Continua a tentar encontrar a reposta à pergunta "Porque não encontra satisfação?".
E, atormentado pela dúvida, num impulso, no hotel, bate à porta do quarto da desconhecida com quem acabou de se cruzar na receção, sem saber se do outro lado da porta o espera a escuridão da loucura ou a luz da verdade.


A Ideia torna-se visível quando nos isolamos na Ilha e alinhamos um a um os objetos que vamos reunindo na memória. Muitas vezes, estamos dentro da Ideia, a vivê-la, e não a vemos, não nos apercebemos dela e julgamos não a ter percebido ou atingido.






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