UMA ABELHA NA CHUVA- Carlos de Oliveira
1953
O filme vale por alguns planos, especialmente os da chuva e do lago. E pelas personagens sinistras dos assassinos, o cego Mestre António, pai de Clara, e o Marcelo. Mas não transmite bem o que é fulcral no romance: os desejos e os sonhos de Maria dos Prazeres (com o cocheiro Jacinto e com o cunhado ausente, Leopoldino) e a extensa culpa social e moral de Álvaro Silvestre.
UMA ABELHA NA CHUVA Carlos de Oliveira 1953
“Ergueu-se de repente, afastando o xaile e a manta de viagem. Lavrava o incêndio dentro dela. Arrancou o chicote das mãos do ruivo e uma vez, duas vezes, uma dúzia, malhou no lombo da égua até poder; então, senhora, então, senhora; o chicote descia da treva, silvo furioso que a luz da lanterna transformava em golpe e dor visível, a égua afocinhava mas lá ia puxando, trôpega e dorida; Álvaro Silvestre emergiu do seu meio sono, esfregou os olhos para ver se era verdade ou mentira aquilo, e a meio da charrete, com as lágrimas em baga pela cara, os cabelos soltos, manchada do oiro baço da luz, de facto era ela, bela, quase terrível:
− Acaba, acaba, acaba, acaba...”
“Por hábito, lançou os olhos às colmeias, que lhe ficavam mesmo em frente, dez ou doze metros, se tanto, e viu uma abelha voar da Cidade Verde. Baptizava as colmeias conforme a cor de que as pintara, Cidade Verde, Cidade Azul, Cidade Roxa. A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas.”
PDF e apreciações críticas do livro no seguinte link:
https://www.cm-cantanhede.pt/mcsite/media/biblioteca/UmaAbelhaNAChuva_CarlosDeOliveira.pdf
Filme:
Sem comentários:
Enviar um comentário