Jaimemorto, psiquiatra de profissão, chega a uma aldeia aparente normal para ajudar a dar à luz três crianças gémeas, três rapazes: Noël, Joël e Citroën. A mãe, Clementina, aceitou mal a gravidez, ameaça o marido, Ângelo, com um revólver e deixa de o conseguir suportar.
Jaimemorto continua a viver lá em casa, fazendo visitas regulares à aldeia, contactando com as suas peculiaridades, e ao mesmo tempo procurando realizar o seu desejo nesta visita: psicanalisar as pessoas e assimilar os seus sentimentos para tentar preencher o vazio que sente dentro de si.
Na primeira visita à aldeia, assiste a uma feira onde se vendem velhos. É esmurrado quando se queixa da forma como os velhos são tratados. Vai a uma carpintaria encomendar camas para os recém-nascidos. Apanha outro murro quando se revolta com a forma como o carpinteiro trata a criança aprendiz.
No dia seguinte foram buscar as camas, deram boleia a uma cabra e a um porco e, no regresso, a pedido do carpinteiro, atiraram ao rio um caixote com o corpo morto do aprendiz.
A aldeia é talvez o lugar mais peculiar encontrado numa ficção que, apesar de metafórica, pretende ser bastante crítica e realista, mesmo incisiva, face à sociedade que discrimina e promove a desigualdade: Quem diz que os existencialistas só pensavam no seu lugar no mundo e nas suas dúvidas filosóficas?
Nesta aldeia há um rio vermelho onde um homem - que todos chamam "A Glóira" - pesca com a boca todo o lixo que é atirado ao rio (e por lixo entenda-se tudo o que se quer apagar da memória e que provoque remorsos). Herda o cargo quem tiver mais vergonha do que ele do mal que os homens fazem.
Há também uma igreja onde Jaimemorto vai para pedir ao padre que batize os três bebés. Este obriga-o a ir à missa.
Vão com Cubranco e inicia o sexo com ela, à beira do caminho, com ela de gatas.
Os fiéis querem que chova e, como o padre recusa e diz que Deus não quer saber dos problemas deles, eles apedrejam o púlpito e o padre cai. Então diz que vai chover, sim, e começa a chover. Nesse mesmo dia, os 3 bebés são batizados.
J analisa um gato e adquire alguns hábitos felinos.
Cubranco recusa sexo noutra posição e recusa falar para ser analisada.
J vê Clementina nua em cima de uma mesa, sozinha, a gemer de prazer.
Os bebés são ferrados pelo ferrador, porque estão a começar a andar.
Clementina visita escarpas. Trata J com alguma curiosidade.
Ângelo conclui a construção de um barco em que irá embora, para o mar, e abandonar os filhos e a mulher.
J vai “analisar” Pencavermelha, a criada do ferrador, e descobre que este tem um andróide igual a Clementina, com a mesma roupa, e que a despe e vai para a cama com ela.
Ângelo parte e com ele o último obstáculo à felicidade maternal de Clementina.
TERCEIRA PARTE
Jaimemorto vive ali há 4 anos. Revela temperamento ameno. Nada o incomoda demasiado, nada o satisfaz demasiado.
Apenas as primeiras visitas à aldeia o deixam um pouco abalado ao ver a falta de consideração das pessoas umas pelas outras, o que nas visitas seguintes acaba por já lhe soar habitual. Evita-as, mas passa por todas estas situações sem nada fazer, rendendo-se às evidências e tornando-se também parte delas.
Mas Jaimemorto nem precisa de sair de casa para experienciar toda esta falta de humanidade e de consciência perante o outro ou, melhor dizendo, esta pouco aparente mas efectiva ausência de coração em tudo o que se faz. Todo este absurdo, portanto.
Clementina diz amar os seus três filhos com todo o seu coração, protegendo-os de todas as formas possíveis e imaginárias dos perigos da vida. Só pensa em tudo o que lhes pode acontecer se "isto" e se "aquilo", acabando por não os deixar viver, de todo, uma vida normal.
J está há 6 anos ali. Passaram meses sem ver Clementina, que passa o tempo no quarto e a tentar evitar que os filhos sofram algo.
J psicanalisar a Glóira e começa a sentir influências.
Clementina decide lamber os filhos para os lavar.
Os três comem pedras azuis que fazem com que voem e desaparecem. A mãe chama por eles. A seguir exige que venham homens cortar as árvores do jardim, porque são muito perigosas para os filhos. Os homens deitada abaixo as árvores queixosas. Jaimemorto, revoltado, foge para as ravinas.
Jaimemorto substitui a Glóira, que morreu.
Clementina para proteger os três filhos mantém-nos encerrados em três gaiolas.
Clementina acaba por transformar o amor pelos filhos num ódio premente contra a inevitabilidade da vida.
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