Branquinho da Fonseca foi um presencista. Para o compreendermos, deveremos lembrar a principal característica desse movimento: a total liberdade de criação artística, movida pela necessidade de cada qual poder assumir a sua própria verdade e sensibilidade, donde a assumpção de um individualismo subjectivo bastante descomprometido com o social e o político. A dor de homem isolado conduzi-lo-á a uma lúcida auto-análise e a um confessionalismo directo e extremamente transparente, num discurso concreto mas simultaneamente onírico, sempre autêntico: "ai daquele que se perde de vista a si próprio", confessou-o.
Destacou-se pela sua capacidade de conciliar o quotidiano e o fantástico e pela intensidade psicológica das suas personagens. Da autenticidade da sua escrita, ele, Branquinho da Fonseca, nos falava quando escrevia esta confissão aparentemente tão simples, mas afinal caixa misteriosa do seu segredo: “...quero dizer que vou escrever pela mesma razão que algumas pessoas choram e porque a dor, por vezes, parece que fica mais pequena depois de se contar. Quando se põe em palavras já fica mais definida e este vago que me toma todo é o que custa mais. Em certos casos basta falar, contar a outra pessoa, mas escrevendo as palavras é melhor: põe-se mais fora de nós”.
Observador atento e arguto contador de casos, Branquinho da Fonseca tem a originalidade de ser um narrador omnisciente e participante, que tem necessidade da confissão e comunhão com o leitor, por meio de uma linguagem directa, coloquial e luminosamente transparente, desnudando intimidades psíquicas (sobretudo através do monólogo e da divagação) e que sentimos como totalmente sinceras e verdadeiras, onde podemos vislumbrar um auto-retrato dos seus sentimentos, paixões, dúvidas, conflitos interiores, etc. Sobre a sua obra literária escreveu o escritor José Régio “natural fusão de realismo e poesia, do senso das realidades e do senso do mistério, tão penetrantes um como outro” e o professor e crítico David Mourão-Ferreira, a propósito da sua obra-prima O Barão “se mergulham sempre numa luz de estranheza as suas personagens e os seus ambientes arrancados ao quotidiano, nunca por completo se evadem da realidade as suas surtidas no domínio do insólito”.
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