sábado, 10 de julho de 2021

A gaivota - Sándor Márai


Publicado em 1943, num período da Segunda Guerra Mundial de extraordinária tensão e incerteza na Hungria, cujo regime tinha alinhado com a Alemanha Nazi.

O protagonista, alto funcionário ministerial, culto, solitário e seguro de si próprio, escreveu um discurso com uma decisão, que irá ser levado ao ministro e irá ser lido e influenciar a história e afetará, inexoravelmente, milhões de pessoas. Contexto de guerra? O protagonista tem 45 anos.

 

13-19 É um conselheiro de Estado a quem uma estrangeira solicita autorização para ser professora de húngaro. Ela chama-se Aino Laine, “A Única Onda”. Ela faz-lhe lembrar outra mulher que ele amou mas que morreu e de quem ele parece guardar um certo ressentimento.

 

19-33 Primeiro rejeita as pretensões da finlandesa, recusa dar-lhe o visto e autorização para ser professora de húngaro, mas por fim convida-a para ir com ele nessa mesma noite à ópera. Ela aceita provavelmente porque sabe que isso poderá ser vantajoso para ela.

 

33-51 Ilona, a mulher que ele amou suicidou-se. Segundo o pai, um farmacêutico, ela teria sido levada ao suicídio pela paixão que sentia pelo professor G. O protagonista questiona-se: qual teria sido o seu papel na vida de Ilona?

 

52-60 Reflexões sobre como reagir perante a Guerra que se avizinha, sobre os privilégios de ser europeu e não bárbaro, sobre o amor que regressa ao fim de alguns anos e dá algum sentido à vida, sobre a busca de outros sentidos, finais, para a vida, sobre as cópias que existem no mundo dos que julgamos insubstituíveis e até de nós próprios, muitas vezes melhores do que os originais.

 

60 “Pensamos que fomos criados apenas num exemplar único e um dia, de repente, temos de reconhecer que somos uma cópia normal e banal: em alguma parte existe um modelo que a natureza vai copiando com indiferença e profissionalismo, repetindo-o mecanicamente ao longo do tempo. Perante essa experiência, um homem vaidoso poderia enlouquecer, mas a minha vaidade tem outra natureza… Sei que a minha alma é diferente. A minha alma não é “melhor” ou “mais sábia”, não é mais distinta do que uma outra, simplesmente é diferente.” (…) “Temos de nos resignar, mesmo que seja uma ideia perturbadora, que Deus não inventou um modelo único para cada um de nós, apenas repetiu, com ligeiras alterações, um original curado há muito tempo. Por isso, existem milhões de gémeos, que não foram concebidos no mesmo útero, (…) “Semelhança” é uma palavra que provoca medos e calafrios. Tudo o que faz parte do destino cabe nessa palavra, um termo satânico que ilumina as profundezas, onde, no ateliê que nos estremece, as formas pré-históricas do ser humano são empilhadas, milhões e milhões em estado larval.”

 

61-64 Perspetiva mais ou menos pessimista da relação com a nova Ili!

 

65-75 Ele e ela na ópera. Ela é admirada por todos os que a observam!

 

75 Acaba a ópera. Vão jantar a um restaurante elegante.  O toque de recolher obriga-a a subir até casa do protagonista onde conta ficar apenas 10 minutos antes de chamar um táxi e ir para casa. Estamos em 1942? em plena guerra mundial, apesar de a Guerra parecer não ter chegado ainda a Budapeste.

 

76-89 Ela relembra quando, na Finlândia, a Guerra fez desmoronar a casa em que vivia com a mãe e um dogue, um enorme cão finlandês. É um amigo do pai falecido todas as noites jantava lá em casa porque sempre quis ocupar o lugar de chefe daquela família. A casa cai e ela sai da Finlândia para Paris e outros locais.

 

88-89 Ele pergunta se ela se lembra de já ter estado na mesma situação em que se encontra naquele momento. Ela diz que não. Ele beija-a.

 

90-93 Conversam sobre o que os conduziu um ao outro e sobre o facto de eles não serem completamente eles, mas réplicas de outros. Ela argumenta que tal ideia pode fazer com que tudo perca força e se relativize e anule.

 

94 “Quando, há pouco, te beijei, tens de saber que não te beijei apenas a ti,… mas também a uma outra mulher, de que tu fazias parte…” Ela irrita-se: “Tenho a certeza de quem sou e sei onde começo e onde termino.”

 

95 Ela diz: “Vim até aqui, porque me foi dito que talvez fosses tu a pessoa indicada para me ajudar a resolver os meus problemas. Agora acabaste de me beijar.”

 

96-113 Ela conta o que aconteceu em Paris, 2 dias antes da invasão alemã, sem os franceses saberem: ela estava com um homem de 70 anos que sabia o segredo, o que lhe dava encanto e o tornava um homem interessante, a 70 quilómetros de Paris na floresta depois de Versalhes, num hotel de luxo palaciano, a comer lagosta.

 

113-130 Depois de uma longa elucubração dele sobre a perda da juventude, esse “maluco feroz e infeliz, imprevisível e calculista, surpreendente e enigmático, amável e excitante, … sujeito à obrigação de viajar e a uma procura de forma desequilibrada e agitada, como se a vida fosse algo para perder”, o telefone tocar e alguém dá uma informação importante ao homem.

 

131 135 A Única Onda afirma, despedindo-se, que “tudo aquilo que disseste foi interessante, por isso, vou sair menos ignorante do que quando entrei nesta sala… Sei que não sou completamente eu; fui enviada por alguém…Soube também que cheguei no momento certo, porque estás a despedir-te da tua juventude…”. 


Ele explica que o telefonema era a informação de que a chegada da guerra a Budapeste iria ser adiada e que quer fazer tudo o que está ao seu alcance para manter longe da sua pátria as forças que destruíram em Helsínquia a bela casa onde ela cresceu.


Ela fica, depois de ele lhe oferecer café. Ele sai da sala e ela fica sozinha.

 

136 138 Ele reflete sobre o amor.

 

139 Ele ouve vozes na sala: ela fala ao telefone com alguém, talvez em russo.

 

142 Será ela uma espia? Será ela a própria guerra personificada?

 

146 Ela diz que viu uma fotografia igual à de Ili no gabinete de um homem que a aconselhou a falar com o conselheiro protagonista: o professor G.

 

149 Ela oferece-se para responder ao que ele quiser. Ele diz: “O que poderia perguntar-te? Poderia perguntar a tua opinião sobre uma espécie de circuito elétrico que liga três pessoas vivas e uma já partida, numa trama que é difícil de compreender e que se fecha com precisão? Poderia perguntar-te se não é bizarro que uma pessoa estranha de Helsínquia conheça um químico que vive num país distante?”

 

155 Ela assume que é uma espia, mas que agora também se aproximou dele e que, para o proteger, tem de ir embora. 

 

Abraçou-o ternamente e saiu.

 

A mão invisível…

 

 

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