Menos que Zero - Bret Easton Ellis
Aproveitando a pausa para férias da universidade, Clay regressa à sua Los Angeles natal, um mundo de privilégios sem limites e total rutura moral, na tentativa de redescobrir o que sentia pela sua namorada, Blair, e pelo seu melhor amigo, Julian. Os dias, porém, sucedem-se iguais, entre incontáveis festas em mansões exuberantes, bares duvidosos, discotecas, restaurantes de luxo e lojas, e Clay permanece no ponto onde começou: preso entre passado e futuro, esperança e vazio.
Às vezes, à noite, muito tarde, quando conduzo pela Mullholland, tenho de desviar o carro e travar a fundo e, ao brilho dos faróis, vejo os chacais a correrem sem pressa, no nevoeiro, trazendo trapos vermelhos na boca. Só quando chego a casa é que me apercebo de que o trapo vermelho é um gato. É uma coisa que as pessoas têm de enfrentar quando vivem nas colinas.
...
Quando estava em Los Angeles, ouvi uma canção interpretada por um grupo local. A canção chamava-se Los Angeles e as palavras e a sua interpretação eram tão duras e azedas que a canção ficará na minha cabeça durante dias. As imagens, como mais tarde percebi, eram subjetivas e nenhum dos meus conhecidos as interpretou da mesma maneira. Para mim, eram imagens de pessoas levadas à loucura por viverem na cidade. Imagens de pais que estavam tão famintos e vazios que devoravam os próprios filhos. Imagens de pessoas, de adolescentes como eu, que levantavam os olhos do asfalto e ficavam encadeados pelo sol.
Essas imagens ficaram comigo, mesmo depois de eu sair da cidade. Imagens tão violentas e rancorosas que me pareceram o único ponto de referência, durante muito tempo. Depois de eu partir.
Página final
13 de agosto de 2020
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