quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O incesto - Mário de Sá-Carneiro

O romantismo sombrio ou negro de Edgar Allan Poe meets a Montanha Mágica de Thomas Mann

Davos, Suíça 

A Dama das Camélias meets Bruges, a Morta


«Mas havia mais. Em Paris, à noite, sozinho no seu quarto, antes de adormecer, não se lhe esboçara nas trevas, defronte da imagem puríssima de Leonor, a imagem sensual de Júlia toda desnudada sobre um leito de rosas?... E a roupa íntima da desaparecida que ele beijava sofregamente?... E o episódio das Folies? Essa prostituta de carne à mostra, de seios pintados, recordara-lhe a filha... Por isso a mandara sentar-se junto dele, ah! e por isso se esfregara, ignobilmente se esfregara, sobre o seu corpo debochado!...
Infâmia. Infâmia. Tinha-se consumado há muito o incesto... durava desde a morte da filha!... O quê!? Só desde a sua morte?... E a ponta do seio a enfolar a blusa? E a noite de luar? a noite de luar!?... Agora é que compreendia — ele agora compreendia tudo.»
 



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