domingo, 9 de maio de 2021

Uma agulha no palheiro - J. D. Salinger

O dia em que Holden Caulfield, o narrador, saiu da Escola Secundária Pencey, em Agerstown, Pensilvânia, expulso pelo diretor Thurmer, por ter 4 negativas (em 5 disciplinas) e não se interessar pelo estudo. Já frequentou 4 escolas, desde  Whooton School à Elkton Hills, por não suportar cretinos.

 A despedida do velho professor Spencer. Holden tem 17 anos agora, mede 1,90m. Vive em Nova Iorque. Tem um irmão em LA, D. B., e a uma irmã, Phoebe.

ANALEPSE

Diz que é o maior mentiroso da Terra. Vivia em Pencey. O vizinho de quarto era Robert Ackley. Este entra quando Holden está a ler e perturba a leitura. Holden partilha o quarto com o Stradlater, que Ackley odeia, por achar que sofre bullying dele. Stradlater tem uma namorada.

Stradlater pediu a Holden que lhe faça uma composição de inglês; namora com uma ex-vizinha de Holden: Jane Gallagher. 

Aos sábados ia ao cinema ou passear com Ackley em Agerstown. Holden teve um irmão que morreu quando ele tinha 12 anos.

Furioso por Stradlater ter dito que esteve com Jane Gallagher no carro, Holden atacou-o e ele deu-lhe um murro no nariz.

Decidiu abandonar Pencey e ficar num hotel em NY. Regressaria a casa, em NY, depois de a mãe receber a notícia de que tinha sido expulso de Pencey.

Viajou de noite num comboio. Conheceu a mãe do insuportável Ernie Morrow.

Chegou a NY e pensou em telefonar a Sally Hayes, uma rapariga com quem costumava passear. Foi para o Hotel Edmont.

Holden já teve sexo com algumas miúdas, mas nenhuma delas lhe agradou especialmente. Telefonou para uma amiga de um amigo, sem sucesso.

A irmã Phoebe tem 10 anos e é muito esperta: Holden fala-nos dela. Capítulo aparentemente misógino: no bar do hotel com 3 raparigas descritas como estúpidas.

11.Holden conta-nos como conheceu Jane.

12.Vai de táxi para o bar Ernie. Conversa com o taxista sobre os patos e os peixes do Central Park, no inverno. No Ernie descreve mais pessoas muito estúpidas. Mas nem conseguiu excitar-se e achou a cena deprimente. Ela saiu sem nada ter acontecido.

13.Voltou ao hotel. O groom perguntou se estava interessado numa pândega com uma prostituta: aceitou. Queria obter alguma prática para o caso de um dia se casar.

14.Sonny a prostituta, Maurice o Groom foram ao quarto de Haldon exigir 5 dólares. Haldon levou um murro fortíssimo no estômago.

15.De manhã telefonou a Sally Hayes. Era domingo e só deveria ir para casa na terça ou na quarta-feira.

16.O pai de Haldon é advogado e rico. A mãe ficara nervosa desde que Alley morreu.

17.O encontro com Sally: disse-lhe que a amava e ela respondeu que também o amava. Foram patinar para o Radio City. Haldon disse-lhe que odiava a normalidade, propôs-lhe fugirem e ela foi-se embora.

21.Depois de bêbedo, entrar de noite no Central Park, decide ir a casa para falar, às escondidas com a irmã.

22.Entrou em casa. Os pais foram a uma festa. Acorda Phoebe. Ela diz-lhe que ele foi expulso de Pencey. Que ele nunca gosta das coisas que acontecem seja onde for. Ele nega, mas não se lembra de nada de que goste. Lembra-se só de um aluno em Elkton Hills, que se suicidou. Até que diz se ela quer saber o que ele gostaria de ser: o salvador de crianças que, num campo de centeio à beira de um precipício, correm o risco de cair e morrer. 

23.Depois telefonou ao antigo professor de inglês, mr Antolini.

Os pais chegam mas não o descobrem. Ele chora junto de Phoebe e depois sai.

24.Mr. Antolini conta a Haldon que o pai dele já sabe do seu insucesso. E disse-lhe que tinha a impressão de que ele estava a caminhar para um fim terrível: “A queda que eu julgo que te espera é de uma espécie particular, horrível. Um homem quando cai só sabe que caiu quando atinge o fim da queda. Afunda-se lentamente. As coisas complicam-se com as pessoas que passam a vida inteira à procura de um ambiente que o seu meio social não lhes pode oferecer ou que elas julgam que não se lhes pode oferecer. Desistem. Desistem mesmo antes de iniciarem a busca. Estás a compreender?”

Holden dormiu no sofá. Acordou durante a noite com a mão de alguém a acariciar-lhe a cabeça: era mr. Antolini. Holden vestiu-se, despediu-se dali a toda a velocidade.

25. Holden decide fugir para Oeste. Envia um bilhete a Phoebe para se despedir dela e lhe devolver o dinheiro que ela lhe tinha emprestado. Encontram-se num museu e ela leva uma mala com ela: para fugir com ele. Discutem e ela zanga-se. Ele diz-lhe que já não vai embora: vão ao Zoo e ela anda de carrossel. Ele sente-se feliz.

26. Holden regressa a casa e adoece. Irá estudar para outra escola no próximo ano.



À ESPERA NO CENTEIO, J. D. SALINGER
Tradução de José Lima

Poderia ser um manual para escrita de ficção: uso consistente da linguagem; caracterização das personagens pela sua ação; bons diálogos. 

Este livro poderia ter sido escrito na terceira pessoa e usando uma linguagem literariamente neutra, menos coloquial? Poderia, mas não teria o mesmo efeito. Isto porque a construção do personagem (Holden Caufield), um dos mais icónicos da cultura popular norte-americana, é conseguida não porque o leitor tenha uma vista privilegiada sobre o estado interior de Holden, mas sim sobre a forma por vezes distorcida, com pontos cegos, como o próprio se vê e age. É brilhante a forma como o personagem é montado pelas suas ações para com os outros, que são sintomas, reações e oclusões de estados interiores. Poderíamos dizer que o narrador não é fiável, mas não é exatamente esse o caso… não é mal-intencionado, mas apenas limitado no seu comportamento por zonas demasiado tenras para serem pisadas.

A cena que dá origem ao título do livro (The Catcher in the Rye) é também curiosa, porque se parece enquadrar nesta espécie de distorção que afeta o personagem. Falando com a irmã mais nova, que o põe em causa, dizendo que não ele não se importa com nada, Holden fala-lhe de uma fantasia de ser o ‘catcher in the rye’, apanhando as crianças que correm pelo centeio, antes que caiam num penhasco próximo. Esta imagem seria baseada num poema de Robert Burns (Comin’Through the Rye) que, como a irmã indica, este terá ouvido mal… não é “Se alguém apanha alguém que atravessa o centeio”, mas sim “Se alguém encontra alguém…” Holden, que está num processo de alienação para com o mundo adulto, deseja proteger estas crianças que caem sem perceber nesse mundo.

No final do romance, Holden é colocado perante um dilema. Avisa a irmã que vai fugir de casa e combina encontrar-se com ela para se despedir. Mas a irmã aparece com malas, para o acompanhar, e não a consegue demover. Se é a decisão certa para ele, porque não para ela? Que importa a escola e tudo mais? Se ele pode ‘desperdiçar’ a sua vida, porque não ela? Holden fica primeiro furioso e depois decide ficar em casa – o que constitui uma decisão ‘adulta’, no que isso poderá de bom e mau. A cena do carrossel é uma reconciliação com inocência infantil de que abdicara. Os miúdos no carrossel tentam agarrar um anel dourado e talvez possam cair: mas não está certo que alguém lhes diga alguma coisa; se caírem, caíram. Talvez seja esta a diferença entre apanhar ou encontrar alguém no centeio.

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