Vou olhando para as
pernas da Kitty enquanto caminhamos (o mais que posso sem ter de me arrastar
pelo chão ao seu lado - pensamento que me passa pelo espírito) e descobrindo
que acima do joelho elas estão semeadas de pelos do mais fino ouro. Por a Kitty
ser tão nova e tão bem alimentada, tão resguardada da crueldade gratuita dos
outros, tão inconsciente por enquanto de que chegará à meia-idade e acabará por
morrer ( possivelmente sozinha), por ainda não se ter desapontado a si mesma,
apenas se ter deslumbrado a si e ao mundo com as suas façanhas prematuras, a
pele de Kitty - aquele saco macio, roliço, docemente fragrante, em que a vida
assenta o registo dos nossos fracassos e exaustões - é perfeita. E por
"perfeita" quero dizer que nada pende nem descai, nem estala nem se
enruga, nem se eriça nem incha - quero dizer que a pele dela é a pele de uma
folha, só que não é verde. Não consigo imaginar uma pele daquelas tendo um
odor, uma textura ou um gosto desagradável - sendo alguma vez, por exemplo (é
francamente inconcebível), o mais ligeiramente eczematosa que fosse.
...
Aquele olhar! Aquela
mirada! Todas as metáforas brejeiras que se imaginam vêm ao espírito: sol
irrompendo entre as nuvens, botões de flores abrindo-se, o súbito e místico
aparecimento do arco-íris.
...
... e mergulhar os
meus braços naquele líquido puro e perfumado que rodopia no interior dela.